7 de julho de 2017
Produção brasileira de tilápia cresce 80% em dez anos
Entre 2005 e 2015, a produção do peixe mais cultivado no Brasil, a tilápia (Oreochromis niloticus), deu um salto de 80% com a modernização e a intensificação da produção tanto em tanques-rede em reservatórios como nos viveiros escavados. Esses dados foram observados durante a execução do projeto “Impactos socioeconômicos da tilapicultura no Brasil” executado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) e parceiros, que visitou sete grandes polos de produção da espécie: Orós e Castanhão, no Ceará; Submédio e Baixo São Francisco, na divisa dos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas; Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, regiões Norte e Oeste do Paraná e Baixo Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
Clima favorável, a rusticidade da espécie aceitando diferentes sistemas de produção; alta demanda dos produtos; além do bom resultado em cultivos intensivos, todos esses fatores contribuíram para alavancar a produção da tilápia no país. A regulamentação do uso das águas públicas para cultivos intensivos de peixes em tanques-rede impulsionou o cultivo da tilápia, sendo a espécie responsável por 90% das solicitações de áreas aquícolas no País. A médica-veterinária Renata Melon Barroso, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), coordenadora do projeto, comenta: “A concessão do uso de águas de lagos e reservatórios de hidrelétricas permitiu que piscicultores iniciassem a produção sem precisar ter a posse dessas águas, acelerando o crescimento dessa indústria no País”.
Piscicultores mais capacitados
O estudo detectou também o aumento da tecnificação da produção e do profissionalismo dos produtores em muitos Polos, o que contribuiu para um incremento substancial na produtividade. “O uso de equipamentos, associado a práticas de manejo com controle dos parâmetros de cultivo, permitiu o adensamento da produção também nos viveiros escavados, aumentando a produtividade que, em Polos que se baseiam no uso de viveiros de terra, como no Paraná e em Santa Catarina, saltou de 30 para 50 toneladas por hectare”, conta Renata Barroso.
De acordo com a especialista, a justificativa do aumento da produtividade seria o maior profissionalismo dos piscicultores que compreendem que, para serem competitivos e se manterem na atividade, é necessário ter controle do seu negócio, usar mecanismos de registros de custos, maior cuidado com o manejo e da qualidade das águas de cultivo. A rentabilidade da tilapicultura, que pode variar de 10 a 20% para o produtor, tem levado a um maior investimento com aquisição de equipamentos que melhoram a qualidade da água e automatizam o cultivo, assim como em rações premium. Nos polos mais tecnificados, os cientistas observaram o uso de aeradores, ventiladores que aumentam a quantidade de oxigênio na água, permitindo a criação de mais animais no mesmo espaço, alimentadores automáticos, classificadores e contadores, entre outros equipamentos.
Aceitação no mercado
Omar Sabbag, professor do campus de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), conta que a tilápia é responsável por mais de 30% da aquicultura brasileira. Para ele, no atual cenário, é grande a perspectiva de crescimento da espécie no mercado interno. “Há espaço para expansão especialmente na produção de filés e cortes especiais de peixes de carne branca”, acredita. “O melhoramento genético e a melhoria na sanidade do ambiente produtivo, como observado em algumas regiões (como o uso de vacinas), sugerem potencialidade de expansão no setor”.
O segredo do sucesso da tilápia no Brasil está no crescente aumento da aceitação da espécie no mercado consumidor, segundo analisa Renata Barroso. O trabalho detectou que, diferentemente de outras espécies identificadas apenas regionalmente, a tilápia é conhecida e aceita em todo o País e suas vantagens têm provocado o aumento de sua participação no mercado. Além disso, a tilápia é um dos peixes cultivados mais comercializados em todo o mundo. Por esse motivo, a especialista acredita que o aumento do cultivo no Brasil pode levar o País a ser um grande exportador dessa espécie no futuro próximo.
“A produção em cativeiro permite uniformidade do tamanho, essa padronização é muito apreciada pelo varejo”, comenta a especialista. Outra vantagem que a espécie apresenta sobre os peixes oriundos da pesca é a continuidade no fornecimento. A atividade pesqueira possui entressafra ou períodos de defeso em que os peixes não são capturados. Enquanto isso, os peixes cultivados, como a tilápia, possibilitam o fornecimento constante de peixe fresco o ano inteiro.
Comercialização da tilápia
Associado a esses fatores está o preço competitivo que faz da tilápia concorrente poderoso entre os pescados. Após liderar o mercado de filés de peixe, a espécie agora entra em nicho antes exclusivo de peixes nativos: o consumo de peixes inteiros. Renata explica que, especialmente em cidades litorâneas e ribeirinhas, o consumo de peixe inteiro era exclusivamente de espécies locais. Nos últimos anos, porém, esse hábito está mudando.
“No Rio de Janeiro, por exemplo, há dez anos, tilápia era espécie restrita a cardápios de merenda escolar, de creches ou asilos. Hoje já é encontrada no menu de restaurantes cariocas para consumo do peixe inteiro,” conta ressaltando que o preconceito contra o consumo de peixes de água doce na cidade tornava essa cena impensável no início dos anos 2000. Além dos restaurantes cariocas, os cientistas observaram o mesmo tipo de consumo no Ceará e Espírito Santo. “Encontramos até a tradicional moqueca capixaba feita com tilápia”, revela Renata.
Fonte: Successful Farming